domingo, 25 de outubro de 2009

Noites despretensiosas

As aventuras e desventuras de um modesto rapaz em baladas noturnas

Risos sem motivos. Ou melhor, com muitos motivos. O bar era perfeito. Um pub, daqueles com personalidade forte. Sobre o som? Ah, o som era exatamente como devia ser. Duas bandas, uma com as melhores coisas feitas por nossas bandas tupiniquins e outra com tudo melhor já feito. Beatles, mais Beatles, mais Beatles ainda, Rolling Stones, The Temptations, Kiss (isso mesmo, Kiss! Foi complicado segurar a lágrima), Deep Purple etceteras mais etceteras que, injustamente, resumi em "etc.’s".

As companhias eram precisas. Não podiam ser outras. Cada um se completava. Eu fazia o "louco que cantava todas as músicas, bebia além da conta e puxava conversas com tons sarcásticos até a medula"; Regis era o "cara que nos empolgava com piadas e sacadas de dar arrepios, o cara do ‘time’"; e a Mayara "nos completava com uma feminilidade sem frescura, bom humor e bom gosto pra cervejas". Parecia que havíamos saído das linhas escritas por algum bom dramaturgo. A mesa era, estrategicamente, a do canto. Óbvio que não podia ser outra, afinal de contas, de lá tínhamos a visão de todo o bar. E todos nos fitavam. À minha esquerda estava a banda, à direita o bar, mais à direita ainda a mesa de sinuca (posicionada no alto de uma escada traiçoeira) e no meio estava ela: a loira.

Tratava-se de um legítimo exemplar de "mulher madura", daquelas que parece saber com três dias de antecedência o que você pode pensar. Impossível não se sentir atraído. Nós, homens, sentimos uma profunda atração pelo incontrolável. Vai saber como isso se deu nos milhares de anos que fizeram nossa espécie descer das árvores e partir para a mesa do bar da esquina... Mas voltando, o baixista da segunda banda é amigo do Regis e passa o relatório digno de FBI, CIA, KGB e outras siglas que você nunca saberá o que significa: professora de inglês nas horas vagas e dona do imaginário dos alunos em tempo integral.

Aquilo estava além das minhas capacidades. Desisto da utopia de cara, sem nem mesmo tentar. Não se tratava de covardia, apenas avaliei que não valia a pena arriscar um pouco a noite excepcional com delírios pouco prováveis… Além do mais, havia um indivíduo sentado ao lado dela que fazia uma marcação individual duríssima, lembrando aqueles beques “cabeça de bagre” do antigo futebol, apesar do semblante de fracassado.

Dilemas

O papo na mesa era algo fora de sério pela sintonia espontânea dos seus integrantes. Lembro que eu estava, mais ou menos, entre terceiro ou quarto gole do terceiro copo, quando ela me encarou. Retribui, é claro. Como se fosse um nocaute em uma luta de boxe, iniciei a contagem. Cheguei aos dez quase sem fôlego. Mayara me disse que os olhares dela já estavam me buscando há algum tempo. Era difícil de acreditar.

Mantivemos a troca de olhares, com alguns acenos com o copo insinuando brindes por uns longos instantes. No entanto, não deixávamos de dar atenção aos nossos parceiros de mesa. Aquilo era charmoso. Tive que fazer um esforço descomunal para segurar minhas pernas que insistiam em afirmar o quanto eu era um imbecil por não ir lá e puxar um assunto.

Porém, a maior dificuldade em se acreditar não era pelo interesse dela, mas pelo meu remorso. Estava com um baita receio de fazer algo logo no dia do aniversário da minha, na época, namorada. É engraçado como certas situações só acontecem quando você não espera e, de certo modo, não quer. Sempre achei que destino combinava com ironia, mas aquilo já atingia o nível de absurdo! Fui para outra cidade fazer um concurso e, assim, tentar um emprego melhor, e acabei em um conflito ético.

Às vezes me pego pensando em como agimos na forma de duros censores sobre nossas próprias vontades. Não sei de onde consegui escrúpulos para não cair em tentação, mas o meu palpite favorito é que foi graças aos meus amigos mais íntimos no dilema daquela noite, ou seja, os copos de cerveja que me acompanharam até momento da prova no outro dia…

2 comentários:

  1. Nossa entrei aq de curiosa e leio essa historia!!kkkkkkkkkkkkkkkk como esquecer esse dia! Sdds de tu fiu! Qndo vai aparecer? =*

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  2. Sucesso ao blog, que terá no seu aniversário de 10 anos, o ilustre mentor Xico Sá..
    huahuahuauh

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