sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Sobre aquele dia...

Escrito há três anos, depois de uma aula de simbolismo...
Quando me pediu que fechasse os olhos, eu fechei. Fechei-os com a confiança de que enxergarias por mim. E por isso (só por isso) permiti que a luz deixasse de entrar.
Assim, na escuridão, ouvi tua voz pedindo que eu não falasse. “Palavras estragam momentos”. Então, nada falei. Guardei os meus ouvidos para que captassem teus passos. Passo a passo. Você me cercava e eu já podia te ver pelo som do teu caminhar ao meu lado. Pelo perfume, pela respiração… Você ainda estava aqui e era a única luz que os meus olhos fechados podiam enxergar.
Quando tocou em meu ombro e ofereceu-me a poltrona… “Senta que a espera não se faz de pé”. Eu me sentei.
“Não ria, que o teu riso não é de alegria”. E eu não ri mais. Não mais aquele riso. Não mais nenhum riso. Não mais.
Agora, eras meus olhos, meus pés, minhas mãos, meus lábios e a única música para os meus ouvidos. Até meu perfume já não era meu. Era seu. Ou era o seu no meu. Seja o que for, o aroma que eu podia sentir pertencia a ti. E assim, sendo mais você que eu, consegui descansar.
Quando acordei, já era tarde. Ao meu redor, a casa em penumbra. Os raios fugidios da lua entravam timidamente pela janela. Pude sentir que meus olhos haviam voltado a ser meus, e me entristeci. Tive a sensação que os meus outros olhos, agora já não mais meus, se dissiparam com os raios do sol.
“À noite, você brilha mais”. Eram os seus olhos que me fitavam. Era você velando o meu sono, os meus sonhos, os meus medos… Então, te pedi que fechasse os olhos, que não falasse mais nada e que deixasse eu te guiar…
Tarde da noite, rimos o mesmo riso… de alegria.



Thaís Carvalho

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