sábado, 27 de fevereiro de 2010

Explicação







É a lua

Que faz com que ele tenha

Esse brilho nos olhos

Que faz com que o sorriso dele

Pareça mais bonito

Depois, o sol nasce e o encanto se desfaz...


Para renascer outra noite

Mais!


Thaís Carvalho

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O trauma primário: raízes do comportamento masculino*

Lembro-me de quando era apenas um rapazote em que minhas preocupações maiores eram fazer o dever de casa e cultivar amores platônicos, enfim, o cotidiano escolar de um pré-adolescente. Esses amores eram quase sempre compartilhados, diferente de quando se cresce, pois já não se quer dividir. Interessante notar que os enamoramentos nessa fase da vida são eventos coletivos, um menino estava quase sempre desejando uma menina que, coincidência ou não, era a mesma menina que os seus amigos também desejavam. O destino não estava aqui pregando suas peças, pois era como se o grupo do Bolinha elegesse a musa do mês, é possível que em algum lugar deste mundo meninos tenham organizado este sistema até mesmo através cédulas e urnas afim de uma eleição justa.

Até agora falei dos aspirantes a varões, mas pelo o que me lembro as coisas não eram muito diferentes para as meninas, pois elas tinham um processo de amor muito próximo de nós, isso no que diz respeito a coletividade em que se dava esses enamoramentos. E essa talvez seja a única semelhança o restante era tudo diferente, primeiro, muitas meninas consumavam seu amor, enquanto nós meninos nos deleitávamos apenas em pensamentos, contudo tem outra diferença que acredito vir antes dessa: nós amávamos as meninas, mas elas não nos amavam. Vou explicar melhor, a nossa deusa, o alvo de todo nosso desejo, estava ao nosso lado, ou seja, as nossas musas estavam ali na nossa sala de aula, nossos amores eram aquelas garotas com as quais convivíamos todos os dias, com quem fazíamos trabalhos. Talvez a cumplicidade nos encantavam, acho que o fato dividir os mesmos espaços e os mesmos dias colocava fantasias amorosas na cabeça de nós pobres meninos, mas para elas não (e um NÃO bem convicto). Elas preferiam olhar para os meninos mais velhos (não eram velhos, todavia mais velhos o suficiente para serem muito diferente de nós “pirralhos” imaturos). Para resumir a história nós queríamos o próximo e elas queriam o distante.

Talvez isso tenha dado a mim e a muitos outros garotos a certeza de que essas musas estavam sempre com os caras errados. Impressionava o porque de fulana, tão linda, perfeita e única estar com aquele cara que não merecia ela, na verdade nem sabíamos porque não mereciam, mas o fato é que eles não eram bons o suficientes para elas. Era o contraste da inocência quase angelical das garotas meigas e desprotegidas com a bruteza masculina dos caras errados. Eles eram os forasteiros que vinham roubar nosso ouro e, citando Helder, nos indagávamos "Como podem estes abesto-idiotas cativar o bem querer dos justos?" No caso aqui das justas, mas não tão justas, até porque dada a situação valorizava-se outras virtudes: lindas e amáveis. Se tivéssemos, na época, a idéia de fazer uma revolução de suma importância nas nossas vidas, todos bradariam gritos de “Cafajestes deixem nossas meninas”. Engraçado que achávamos que elas fossem vítimas e não vilãs, talvez a ingenuidade estivesse do nosso lado e não do delas.

Sabe concordo com as mulheres, éramos um pouco imaturos mesmo, mas inocentes e acima de tudo românticos.


*Crônica de João Vianna, amigo psicólogo e romântico. O cabra bateu colocado neste texto. Parabéns.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Ilha Deserta


Passadas as temporadas e estações de São Paulo Fashion Week e companhia, nunca é tarde para homenagear, eleger e elogiar todas as mulheres que gastaram um pouquinho de suas formidáveis belezas dando passadas compridas em passarelas ou apenas assistindo a desfiles. Das acéfalas, dos rostinhos angelicais, esguias, bulímicas, socialmente responsáveis ou anoréxicas, somos todos gratos por essas que são componentes do universo feminino (maravilhoso, diga-se de passagem).

Dessas moçoilas dinheirudas (algumas infelizmente às custas de uma exploração diferenciada, muito glamour, promessas e até sacrifícios da própria saúde), também daquelas militantes de causas sociais honoráveis como a reconstrução do Haiti e a luta contra o câncer de mama ou mesmo de peritônio, nunca se viu menção das mesmas dentre as cogitadas para serem levadas, ainda que somente em nossos sonhos inconscientes e viris, para uma ilha deserta paradisíaca. Minha gente é de parar o coração quando na condição de macho, o sujeito é indagado sobre quem levaria para uma ilha solitária e linda, tal qual aquela da lagoa azul ou como a ilha humilde onde o náufrago Tom Hanks se safou da morte. Em sonho e da boca de alguns companheiros já ouvi palpites e sugestões como: “Por que não a Juliana Paes?” “Ah a Sheila Melo podia ir pra uma ilha ao invés de uma fazenda, tsc tsc tsc!” “Essa Mulher Melancia só ia dar certo numa ilha deserta”.

É bastante comum o varão engolir uma dose de saliva e respirar fundo antes de cogitar uma suposta eleita que pudesse hipoteticamente lhe fazer companhia num desses lugares divinos, _ uma pergunta difícil da qual todo homem um dia deveria se deparar _ um tanto para não ser injusto com as demais beldades que supostamente ficariam de fora da famigerada ilha e outro tanto pela variedade étnica e artística de belezas com as quais o brasileiro foi presenteado.

Não meu amigo/a, não quero em nenhuma letra do presente texto desfavorecer e nem tirar o mérito de nossas representantes das passarelas e nem das belezas que já passaram pelas oficinas da nossa pequena cidade, mas veja bem e convenhamos que, nunca na história desse país se ouviu configurar entre as candidatas, mulheres de tal porte e o sujeito quando as faz é julgado como no mínimo de gosto duvidoso. O motivo? Eu gostaria de saber.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Rua


Muito se esclarece sobre determinada pessoa por suas ações, a roupa que veste, o vocabulário que usa, as escolhas que faz, as companhias que tem. Nesse sentido, algo fala muito sobre as intenções do amante: a escolha do lugar do encontro. Convenhamos, não é nada fácil escolher entre o restaurante da moda e o bar preferido, porém, nessas horas nunca se quer agradar a si mesmo.

Portanto devemos aqui, agora mesmo, criar nosso manifesto: De volta aos encontros de rua! Aqueles mesmo, depois da escola, na ruazinha escura, na calçada isolada, no poste sem luz.

Não façamos dos nossos encontros um desfile milionário da Sapucaí, que, aliás, dizem que o melhor é assistir pela Globo no sofá da sua casa, bem digital.
Façamos encontros de frevo, carnaval de Salvador, oxente não fantasie meu rei, carnaval e encontro bom são de rua.

O velhinho passa e deseja boa noite, o policial dá bronca e pede atenção, o colega passa tirando onda, a vizinha fofoqueira também passa na hora “H”, ou seja, monotonia não tem, nada de conversas discursais, nada de pompa, nada de frescura.

As soluções costumam ser bem simples, nós é que complicamos, portanto aos encontros de rua, vida longa! Vai um trecho* de um casal que deu certo e não me deixa mentir: “(...) O Eduardo sugeriu uma lanchonete, mas a Mônica queria ver o filme do Godard, se encontraram então no PARQUE da cidade (...)”.
* Eduardo e Mônica - Legião Urbana

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sobre alguém

(Mais um poema tirado do fundo do meu baú digital...)

Como escrever
Palavras de vento
Que quando escritas
Mudam o sentimento
Redobram a angústia
Renovam o amor
Como saber
Ser
Ou não ser
Escritor

Se letra
A letra
Palavra
Transforma
O que era livre
Em norma
É tão esquisito
Estranho
Aflito
Escrever

Sobre alguém
Que nem sabe
Te ler.



Thaís Carvalho

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Amar pode, sim, dar certo!

“Não acabarão nunca com o amor, nem as rusgas, nem a distância. Está provado, pensado, verificado. Aqui levanto solene minha estrofe de mil dedos e faço o juramento: Amo firme, fiel e verdadeiramente”.
Vladimir Maiakóvski

Sempre fui uma romântica incorrigível. E como toda romântica que se preza, acreditei durante toda minha vida que em algum momento de minha existência encontraria um amor. Mas não um amor qualquer, um amor verdadeiro, pra vida toda. Sim, eu sonhava com um príncipe que chegaria montado em um cavalo, não necessariamente branco, mas que daria um final feliz à minha história.

O meu príncipe não veio montado em um cavalo, ele era mais desprovido financeiramente que a maioria dos príncipes, por esse motivo, utilizava uma bicicleta para me visitar. E até hoje, não vivemos um conto de fadas, não moramos em nenhum castelo, mas o amor, ah o amor... esse é real. É ele que nos faz superar as dificuldades e os obstáculos que teimam em aparecer no meio do caminho. Por que se fosse uma paixão, ou apenas uma simples atração, não resistiria a tantas tempestades que já assolaram nosso relacionamento.

É nesse amor que eu acredito. O amor que “tudo sofre, tudo crê, tudo suporta, tudo espera”. Sofro quando está ausente, creio que sou amada, suporto seus defeitos, espero por dias melhores. Dias que só poderão ser realmente melhores se forem vividos ao lado dele, que me ensinou que o amor pode dar certo, principalmente quando não se espera que o outro seja perfeito e se entende que os defeitos fazem parte do cardápio do amor. Os anos de convivência me fizeram perceber que exigir a perfeição é impossível, mas conviver e saber lidar com as pedras que surgem e que sempre surgirão pelo caminho é a lógica para se conservar um grande amor.

A história ainda não chegou ao fim. Há um longo caminho a ser percorrido ainda. Mas os dias têm sido bem mais felizes, sim, desde o dia em que econtrei o amor que eu tanto ansiei.

A romântica autora deste texto é a Álefe Souza. Espero que o primeiro de muitos para esta Confraria.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Mistério de Colombina


Não era acostumada com aquilo. Todos aqueles confeites, serpentinas e máscaras. A música, então, não era exatamente a que costumava ouvir nas festas ou quando sai com os amigos. Não sabia as letras. Bom, pelo menos não nos primeiros minutos, depois de um tempo já tinha decorado e estava cantando e pulando. Mas ela não era daquilo, do Carnaval. Era uma daquelas pessoas que fugia nessa época do ano. O mais próximo que havia chegado era dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro (não gostava das de São Paulo) que via pela televisão, analisando as roupas e esperando a apuração de voto com tanta ansiedade como os bicheiros. Ou seja, não era uma pessoa do Carnaval. Talvez por isso que seus amigos ficaram tão surpresos quando em um final de tarde ela disse que iria pular naquele ano, e começou a ensaiar as marchinhas e ouvir as últimas da Ivete Sangalo (ela até tinha aprendido aquela da Chapeuzinho). Mas todos pensaram que era brincadeira. Ela não teria coragem no final das contas, ia largar tudo por um filme no TCM ou um livro novo. Ate o último minuto eles duvidaram. Foi só quando a viram em um dos blocos vestida de Colombina que perceberam que ela havia falado a verdade. Nem podiam acreditar. Ou melhor, não entendiam os motivos daquela drástica decisão. Ela não era do Carnaval. Ela não gostava daquilo. Mas estava lá, pulando e cantando. Aquilo era um mistério. Era. Ate eles verem quem estava ao seu lado fantasiado de Pierrot.

ou é amor ou é carnaval.

Me acostumei a não tê-los. Sempre foi uma opção: ou amor, ou carnaval. E a eterna escolha pelo amor me faz sentir agora como é não usar máscaras nunca, mas também sinto falta por não ter vivido a experiência. Nada de carnaval, axé, Salgueiro e nem Gaviões. O Carnaval morreu, há alguns anos. Foi o amor que matou. Então aprendi a viver assim, sem carnavais.

No máximo amava uma fantasia assistida pelo canal de TV famoso, onde desfilava gente famosa. Assistir sozinha ainda. Meu amor não gostava de carnaval. Nada de micareta, nem chiclete, nem banana. Nem Mangueira. Nem banana e nem mangueira no carnaval. Acho que sempre estive longe de amores, mesmo no carnaval. Hoje é que parei pra pensar: Eu nunca usei máscaras!

E acho que já me acostumei a ver roupas customizadas, mas não guardar alguma no armário, nem moldá-las como minhas amigas faziam, alças e regatas e tops, preparando-se para seus amores de carnaval. Nem máscara, nem top, nem amores.

Onde passei meus carnavais? Acho que até me acostumei. Quando me perguntam sobre o carnaval que passou, eu finjo que não sei, não vivi, não gosto. Carnaval acabou, o motivo de seu impedimento também.

Eu continuo gostando de axé, marchinhas, mas por favor, não me perguntem sobre meus amores de carnavais. Respeitem a relação distante entre amores e carnavais.Perdi a fase, e perder algo é provavelmente o primeiro passo pra se debanar no luto! Perdi. Passou. E para quem também optou pela não relação amor/carnaval, mas hoje não precisa mais dar satisfação, é necessário escapar da pergunta, do tema, enfim: FUJA! E saiba: Mesmo quando a relação não foi tão relação, respeitar o luto é obrigação. Vista-se de preto e, caso perguntem, diga que está numa fase rock.

Esqueceu o axé, e os amores que até hoje te impedem de querer o carnaval.
Não vivi amor de carnaval! Eu vivi amor trash, grunge, hard and rock, amor heavy!
Só vivi Amor de Metal.

*Esse texto é da romântica Priscila Costa. Lancei um desafio para a garota de criar um texto usando duas frases minhas. Elas estão aí no meio da crônica. A sujeita não se fez de rogada e escreveu esse texto fueda demás. O que acharam?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Amor sem carnaval*

Eu te deixei pra trás e o carnaval ainda nem havia chegado, lembra?

Uma semana antes olhava nos teus olhos. Na quarta-feira de cinzas, esmaeci.

Desapareci numa nódoa, como uma foto antiga borrada após a primeira gota de lágrima derramada ao acaso, sem dor.

Antes, poucos dias antes, no domingo anterior, ouvi promessas de amor eterno. A palavra sempre destroi minhas esperanças de eternidade.

E agora que te tenho de novo em meus braços, olho o calendário: lembro dos pandeiros, das cuícas, dos tamborins, dos corpos molhados e penso em como são frágeis os amores sem carnaval.


*Texto da jornalista Golby Pullig, dona do blog www.golbypullig.com e do twitter @pullig. Parabéns, mujer. Mais uma romântica para essa confraria...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Se o amor tem que nascer, que seja no carnaval.

Como era demorado aquele ônibus 206 - Cohab do Bosque, que encurtava de 40 para 10 minutos o tempo de chegada e isentava meu quengo de algumas sebosas gotas de suor, em razão do calor amazônida, com jeitão sertanista. Preferia gastar 37 reais mensais a ter a imagem higiênica maculada no sacro ambiente trabalhista. Não que os meus 15 anos de idade da época não me dessem um alvará de atoleimação estética perante meus alunos e chefe. Porém, eu era assim.

Eram todos mais velhos que este aspirante a instrutor de Windons, Word, Excel e outros mistérios cibernéticos que hoje qualquer pirralho com problemas urinários noturnos domina sem cerimônias. Um moleque com ar marrento, como era este que vos escreve, tem suas preocupações, entre elas o próprio layout físico.

Mas como estava hablando, o coletivo era um vestibular de paciência para um Dalai Lama, tamanho descaso com a pontualidade. E não é que comecei a me afeiçoar com esse desleixo? A razão era ela, a morena de cabelos pintados. Aquela galeteria obscena de tão imunda e entregue às baratas, localizada em frente ao ponto de ônibus, virou destino certeiro para minhas retinas. Desde que a vi pela primeira vez, foi amor na hora. Ela varria a varanda do estabelecimento, ao mesmo tempo em que pegava um carão daquele gordo ensebado e imbecil, dono do lugar. Eu travava a leitura fueda de “Cem Anos de Solidão”, do mestre Garcia Marques, enquanto pensava que aquela bendita podia dar cabo ao meu retiro amoroso em segundos.

Via ali a própria encarnação da cinderela com um semblante misterioso de uma quase roqueira, mas sem exageros que agridem as vistas mais preconceituosas. Tinha o olhar matuto que me provocava um teco de remorso quando era flagrado a encarando. Todo dia, logo depois da sesta, ia para o lugar com a intenção de puxar um papo/cantada non-sense “Você vem sempre aqui?”, ou um clichezaço “Não nos conhecemos de algum lugar?”. Mas cadê a coragem, amigão?!

Timidez é algo bonitin no seriado adolescente-mequetrefe, mas na dramaturgia da realidade é uma estorva dos diabos! E eu era muito frouxo. Entrentanto, encarava. E de tanto peitar de longe a donzela de ferro – pelo menos é o que a camisa dela dizia em english, com um monstro ao fundo – ela reparou em mim. Ela sorriu. E dali em diante, partimos para a fase da cumplicidade sem palavras, onde ambos sabiam da existência do outro sem ter trocado um fonema se quer.

Foi então que, sem um aviso prévio, ela já não estava mais ali. Tinha no seu lugar, uma senhora de idade que não me atraia mais como sua antecessora, creio por conta do excesso de rugas. “Fudeu!”, conclui ao dar conta que, em razão da moleza juvenil, não sabia nem o nome da mujer. Por alguns dias fiquei entojado.

Passado alguns meses após minha minúscula e contraditória epopéia tragicômica, chega a temporada de festa da carne para aliviar minhas lamentações. Era hora de lavar a égua dessa vida mais ou menos. Diz a medicina alternativa que um antídoto arregaçado para dor de amores fracassados é uma dose cavalar de máscaras, confeites, serpentinas, mujeres, bebidas de procedência duvidosa, lolós entre outras sacanagens no canibalismo consensual que expira tão logo chega a quarta-feira de cinzas.

Eis que no meio do vuco-vuco, enquanto realizava minha viagem carnavalesca num dos infinitos trenzinhos, vejo minha musa platônica em um desses veículos humanos vindo em direção oposta. Ela me viu e, tal como eu, apresentou surpresa, alegria, entusiasmo e desejo na mesma face. Foi tudo fulminante. Quando mal dei por mim, já tinha passado e alguém me empurrava para frente, pois trem de carnaval, como é sabido pelos ordinários, não pode parar. Perdi-a pela segunda vez na mesma encarnação.

Não, não a deixaria escapar outra vez. Fui a sua caça, em meio ao amontoado de foliões, arlequins, colombinas e pierrots. Novamente, seu trem cruzou a mesma linha do meu e, invertendo a lei da natureza, fui agarrado por ela que me tascou um beijo daqueles que mataria de inveja até mesmo o marinheiro e sua concubina na Times Square. Ela tinha um piercing na língua. Foi fueda. Foi sublime. Adereço recomendado por este roçador, povão.

Gritamos para sermos ouvidos em meio ao barulho provocado pela música “Pa rarã rarã na na na... Vai pra p... que pariu!”: “Qual é o teu nome?”; “Fernanda, e o teu?”; “Júnior”. Sem mais palavras, saímos de lá direto para um hotel barato onde vários amores pagos, sinceros e não sinceros já estiveram outrora. Foi o abofelamento dos deuses, com gozos mitológicos. Se o amor tem que nascer, que seja no carnaval. De tão zonzo, apaguei e só no outro dia. O único vestígio que a Fê generosamente deixou para trás foi o aroma de seu Floratta In Rose. E desta forma não vi mais, por muito tempo, o maior amor de carnaval que já tive.

Mas quis o roteirista comediante, escritor da minha sina, elaborar um gran-finale para essa história mal-acabada. O reencontro ocorreu na festa de noivado de um amigo daqueles com status de irmão que andava meio sumido por essas paragens, culpa de um emprego full-time. É engraçado como pessoas tão próximas conseguem desaparecer, mas o afeto e amizade se mantêm intactos. Assim era com esse chegado.

Foram longos três anos sem aquele olhar atrevido. Entretanto, devo admitir que Fernanda era a noiva mais linda que vi na vida...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Casal mais velho do mundo responderá perguntas pelo Twitter

Por Tatiana de Mello Dias
do site: Estadão.com.br

Foto: Reprodução

Herbert Fischer tem 104 anos. Zulmira, 102. Os dois são casados desde 1924. Eles são as pessoas vivas com o casamento mais longo do mundo.

Qual é o segredo da longevidade? Para tentar chegar a essa resposta, os dois receberão perguntas pelo Twitter de hoje até o dia 12.

Herbert e Zulmira gostam de conversar com os vizinhos e ver os trens passarem. Um dos segredos do casamento eles já revelaram: cada um tem o seu próprio quarto.

Se você quiser saber mais sobre o casamento que já dura 85 anos, pergunte a Herbert e Zulmira pelo perfil do casal no Twitter, @longestmarried. Eles selecionarão as 14 melhores questões, que serão respondidas no dia 14 de fevereiro (o Valentine’s Day nos EUA).

(Dica do Mashable)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Poemetos

poemetos meus


o coração
porta aberta
à tua espera
é carta
de amor
que não chega


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Pousou um pássaro
No meu pensamento
E quando foi embora
As borboletas
No meu estômago
Bateram as asas


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As lágrimas
Não eram muitas
Nem poucas
Somente essenciais
Para um dia sem você.

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Caiu uma gota
de suor
no nosso amor
será que já
estamos cansados

um do outro?


Thaís Carvalho

sábado, 6 de fevereiro de 2010

vazio

Escondeu-se por trás das paredes de um cômodo pequeno,
dividido por luzes e sombras; recolhendo-se entre os
lampejos dos faróis que recortavam os móveis, as janelas,
os lençóis, as fotografias. se perdeu vagueando as mãos nas
texturas das cortinas, procurando nas frestas dos vitrais do
quarto, aquele cujas formas pouco se perderam na mistura de
inferno e volúpia. a imagem do vazio estampado em pé, à espreita
do momento em que o incontrolável criasse formas e alimentasse
um corpo que cai enfadanho, todas as noites, ansiando por calor....



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O Gestor dos Relacionamentos


Tudo começa com um bom planejamento, uma análise de risco consistente, definições claras dos processos e macro processos do amor. Parece difícil entender expressões incomuns como essas, mas esse é o vocabulário do gestor de relacionamentos. Um sujeitinho metódico que enfrenta os desafios da pós-modernidade amorosa como se administrasse uma metrópole urbana.

Ainda não sabemos, ou não nos forneceram estatísticas suficientes, do grau de acerto dessa criatura anti-romântica do século XXI, mas a sua análise não pode deixar de ser feita, para registro e para a comédia de nossos filhos, amém.

Vou me ater à visão do Macho (obviamente pela facilidade de estudo), mas sem deixar de mencionar que a possibilidade de que boa parte dos fatos citados caia como luva nas belas mãos de nossas executivas cada vez mais líderes de si mesmas.

Bom, tudo começa na paquera, ou no “lance”, com o velho olhar 43 que nunca sai de moda e que neste caso não se trata de nenhuma taxa anual de juros de mora. Demora sim é a abordagem, milhões de cálculos se passam na cabeça do HOMEMU (Homo Metódiens com Mulheres), que vai desde a taxa de risco de a moçoila ser um travesti (devido ao aperfeiçoamento da ciência) até a avaliação do grau de beleza estabelecido pelo mercado e pelas agências avaliadoras de risco de mico.

A conversa estabelecida mais parece uma entrevista de emprego: análise de currículo, pretensões futuras, adequação de perfil à função, são alguns dos eixos norteadores da conversa fiada do cabra aplicador de métodos.

Caso cole o “se colar colou”, e a empreitada der certa, o segundo encontro com certeza contará com uma pauta bem elaborada, talvez com a produção de alguns slides da trajetória de sua vida, algo institucional, pra surpreender à pobre moça estagiária na “repartição”.

Pois é, burocracia, se bem usada, serve para controle e respeito às regras. Mas no caso do nosso herói, se trata apenas de mais um papel ridículo que só uma conquista é capaz de produzir.

Na arte da vida...


Todo mundo um dia pisa na bola, mas a grande mancada na vida é quando você pisa na bola da pessoa errada, ou melhor, na da pessoa certa. Nessa arte de conhecer pessoas, a vida bem que poderia dar uma ajudinha, como uma espécie de close caption, aquelas legendinhas ocultas que através do reconhecimento da voz iriam nos "traduzir" as intenções de determinado sujeito. Por exemplo, a vítima desse cafajeste que se manifestou na carta abaixo (penúltima postagem do blog) poderia até se envolver, mas não seria por falta de aviso, estaria bem estampado e letras garrafais: CUIDADO, PERIGO! MANTENHA DISTÂNCIA!

A grande questão é que, a vida até que dá esses sinais, não com tanta tecnologia mas dá, e ainda assim nós, condenados a pelo menos uma vez na vida estarmos na condição de "Últimos Românticos", caimos no conto da carochinha, ora como vilões, ora como vítimas.

E nessa arte de viver, no grande palco da vida, somos protagonistas de nossa própria história, e às vezes gostamos de atuar em novelas mexicanas, outras vezes de atuar como "Helenas", e por vezes de protagonizar como manda o Tarantino. Nestas coleções de encontros e desencontros, amores e desamores, expectativas e decepções, descobre-se que as relações nunca acabam, elas se transmutam, se transformam... seja em sonhos, seja em realidade, ou em qualquer outra coisa... e é importante considerar que essa transformação é um continuum de força e desejo, de metáforas verdadeiras. E quando as cortinas fecharem e as luzes se apagarem, no final restará somente o protagonista solitário, eternamente o companheiro mais fiel de si mesmo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Carta do cafajeste: A retratação do irretratável

“O mundo é bão Sebastião”, cantarola o barbixa com aspecto rubro do Nando Reis. E tem razão nessa máxima. O mundo é tão “bão” que permite a quebra na balança do merecimento amoroso. Já faz alguns invernos amazônicos de alagação que uma sem-vergonhice me apoquenta o juízo: a capacidade que os abesto-idiotas têm de cativar o bem querer dos justos. Nessa classe dos recebedores do mensalão do amor, pode anotar aí o nome deste figurante de romântico que vos dirige.

Pois então, sou um daqueles que recebe ilegalmente e sem merecimento o sorriso sincero do gostar. Já meti em minhas meias e roupas de baixo a vergonha de amores e cariños que a mim ofertaram. Não, não que eu não valorize. Pelo contrário, tento demonstrar o quanto são momentos fuedas aqueles em que ela me demudava num moleque embasbacado com aqueles zóios de ternura.

Ficou eternizado na minha memória o instante exato em que dei conta que o meu caminhão dos relacionamentos era mirrado por demais para as cargas areias de dedicação, respeito, afeição – entre outras palavras que não costumo usar aqui – que me foram doados com intenções mais vãs e benignas. O momento foi quando ela surrupiou minha camisa do chão com a autoridade de quem sabe o que quer. Vestiu-a e se transformou na pessoa mais dona de mim. Foi mágico, pena que por minutos. Ela havia me presenteado com aquela nudez digna de um traço de Milo Manara, e em troca pediu apenas uma camisa para cobrir sua perfeição, só enquanto pegava um copo com água para minha crônica dor de cabeça.

Não sou o maior filho de mulheres da vida que já passou por aqui. Também já atuei no papel de vítima desses amores não correspondidos à altura. Mas nem de longe uso o meu remorso inútil como pedido de recurso de redução de pena. Porém, só quero aqui dizer ao mi pueblo: Cariño, você é especial para mim.