quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Dicionário da Mulher – Verbete: A dança

Nemo saltat sobrius
"Ninguém dança sóbrio."
Provérbio latino


Entre as coisas das quais crio mais coragem em me aventurar após empurrões etílicos goela abaixo são escrever e dançar. E faço questão de me atrever no aprendizado de cada uma delas. Litros de certeza na cabeça e concentração nas mãos, pois é preciso precisão, como diz o outro, ao empunhar a caneta ou a cintura da dama cortejada.

De acordo com os ensinamentos de uma amiga, dessas que se tem mais do que amizade, a dança é, nada mais nada menos, do que 70% na hora de tentar o primeiro contato imediato com a intenção de chegar ao terceiro grau. Completando os dados do instituto de pesquisa Data/Romance, ela não me disse, mas arrisco afirmar que os demais 30% ficam a cargo do layout do sujeito, do papo dez e da confiança do abnegado.

É claro que a margem de erro se estica mais que borracha de estilingue, depende da ocasião. Sem verdades absolutas no cabo de guerra do amor. Mas não é por acaso que a minha querida diaba utiliza de métodos similares ao dos pesquisadores para provar que a dança é o atalho mais delicioso para alcançar o ouvido da madame.

Ah nós homens, somos tolos, cheios de embaraço em abrir mão da dureza segura de nossos quadris. Anos de educação negativa nos indicam que isso que coisa para os mais afrescalhados. Mentira. A mulher deseja de seu parceiro não só o acompanhamento, mas a condução dos passos. E para tanto, só sendo um “sem-vergonhi”. Elas gostam de “sem-vergonhis”.

Aos leitores-cinéfilos, não cabe a desculpa de falta de exemplos que provam a eficácia da dança. Vide o personagem do sempre genial Al Pacino, no fantástico “Perfume de Mulher”. Cego excêntrico, mas enxergava há quilômetros o valor do “dois pra lá, dois pra cá” bem executado. Vão de tango, a dança que mistura drama, romance e suspense de uma lapada. Nota-se que a moça, bem mais jovem diga-se, fica sem fôlego perante tamanha segurança. Risos e suspiros tímidos da pequena são os aplausos para o nosso herói.

Com algum tempo de jornada, confirmo que a dança de salão é um dos melhores pretextos para se falar as mentiras sinceras e verdades fantasiosas. É bom que só para flertar.

Não venho aqui enganá-los. Reconheço que ainda não fico nem perto de merecer o título de “Grão-mestre-pé-de-valsa”. Mas sou enjoado. Na minha teima, começo a apresentar sinais de evolução. Homo erectus dá espaço para o homem de swingtherndal. Entre uns passos em falso e pisões nos calçados femininos, vou assimilando a arte do entrançamento musical de corpos.

É sempre um prazer para o homem empunhar com a esquerda a mão delicada, na direita o quadril convidativo e no nariz o perfume de um cangote. O sacrifício de unhas pintadas com esmalte à serviço da dança é a materialização da compaixão superior de uma mulher, digno das deusas.

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