terça-feira, 19 de outubro de 2010

Filosofia barata das ambiguidades amorosas

Pensemos por um momento nas ambiguidades e o quanto podemos suportá-la, mas antes de entrar nessa questão especificamente, vamos ver seus desdobramentos em nossas vidas. No que toca a nossa sociedade, as ambiguidades são evidentes, estão por toda parte e não só nas relações e nos fenômenos como em nós enquanto pessoas, elas nos atravessam o tempo todo. Ocorre, a despeito disso, que muitos pretendem suprimi-la, e quando percebem que isso não é possível por completo, tenta-se pelo menos disfarçá-la, criando ilusões de que ambigüidades são dissimuláveis. O amor, por exemplo, é uma boa expressão disso, ele é ambivalente, pois não é uma unidade total, completamente coesa, com sentimentos sempre alinhados e afinados, mas um continuum ambíguo, e afinal essa é a própria dinâmica da vida.

Se você, leitor, assim como eu, vê algum sentido nisso aceitando tal argumento como uma verdade ou pelo menos como uma quase verdade vai se deparar com o seguinte fato: se nós recusamos a ambiguidade em nossas vidas e sendo o amor uma de suas expressões, significa que há uma tendência nossa de fugir dele e recusá-lo também. É importante explicar que o fugir do amor não é necessariamente recusá-lo em seu modo radical, recusar aqui significa uma gama muita variada de modalidades possíveis, por exemplo, podemos dizer que fugir do amor é complicá-lo, colocar condições tolas, adiar sua concretização, enfim quero utilizar o termo ‘recusar’ como todas as estratégias diversas para tentar suprimir e/ou disfarçar essa tal ‘ambiguidade’.

E é exatamente nesse ponto que reside o ponto mais interessante sobre nossa reflexão, pois quanto mais recusamos a ambiguidade, mais ela existe em nós, e por conseqüência quanto mais recusamos o amor mais ele existe em nós. Nesse sentido, o que proponho aqui é que quanto mais inventamos sua recusa sob diversos pretextos mais ele nos afeta e nos atravessa e, portanto, é mais presente; por outro lado, quanto mais se procura pelo amor mais o banalizamos e o esvaziamos - é um movimento dialético no sentido grego, sem síntese. É um mecanismo que funciona inversamente proporcional, ou seja, quanto mais se extingui algo mais se cria, quanto mais se suprimi mais se multiplica; podemos dizer, por essa razão que a invenção sempre contrainveta alguma coisa. Isso, por exemplo, corrobora a máxima popular de quanto menos se espera o amor mais próximo ele está de acontecer, justamente porque você não está a inventá-lo artificialmente ou forçosamente, e o inverso é verdadeiro, quanto mais se procura menos se encontra.

Para concluir, as ambiguidades são fatos, e temos talvez três opções diante delas: uma, recusar por inteiro, outra aceitar completamente, e uma terceira, que me parece a mais inteligente, equilibrar, aceitar em partes a ambiguidade e recusar em partes também, encontrando uma espécie de meio termo, que por natureza não é perfeito, mas satisfaz, traz conforto. Nesse sentido digo, sejamos medianos, pois este pode ser um modo de se equilibrar na inevitável incompletude das coisas e uma maneira de lidar com a ambigüidade sempre presente em tudo e todos.

Um comentário:

  1. Concordo, mas discordo. busco o equilíbrio, mas não abro mão dos altos e baixos do amor. Belo texto, meu amigo.

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