terça-feira, 6 de março de 2012

Carta aberta a Ovídio


Ressuscitem imediatamente Públio Ovídio Naso, escritor romano que viveu entre a segunda metade do I século a.C e do século I d.C, para que complete sua obra inacabada.

Em “A Arte de Amar”, Naso compra a briga com o cupido e jura que pode derrotar o efeito desastroso do amor. “Venham às minhas aulas, jovens enganados a quem o amor só trouxe decepções. O mesmo que vos ensinou a amar vos ensinará como vos curardes” promete o político das causas impossíveis há 2012 anos.

Diria ao poeta-curandeiro que, mesmo diante de tantas dicas valiosas, foi incompetente diante do principal mal da separação: o domingo. Provavelmente naquele tempo não existiam Faustões e outras drogas depressivas, mas esquecer do principal efeito colateral do pós-romance é imperdoável.

Mas onde quer que esteja Nasão, nesse momento, digo-vos em verdade: Ovídio, quando disseste “Elimina a ociosidade: é ela que impele as setas de Cupido” não tinha a real noção do que é um domingo na vida dos amantes. É justamente da ociosidade compartilhada que os amantes sentem falta, Naso! Não adianta nos ocuparmos com trabalho, pois o corpo pedirá um almoço às 3h da tarde na churrascaria preferida ou tacacá do fim de tarde.

Poderá dizer que ao usar esse argumento deixei de lado o descanso sabático. Engana-se! A ociosidade do sábado é facilmente driblada pelo futebol e pela cerveja com os amigos, pelas religiosas faxinas ou as compras do mês. Ademais, o sábado não usa as algemas de ser um dia pré-segunda-feira, como é o caso do dramático domingo.

Pouco adianta “fazer longas viagens e fugir para muito longe” se, independente do lugar, os amantes precisam passar pelo sofrimento dominical e outros fantásticos shows da vida. Como pode Nasão, dizer que para se livrar do sofrimento, “O uso de feitiços é condenável” se temos um dia na semana tão cheio de ocultismo, como é o caso do Sunday e seus filmes com Charles Bronson no domingo maior.

Por fim, Ovídio, é muito fácil dizer que “A melhor maneira de ter de volta tua liberdade é romper as cadeias que ferem o coração” em uma segunda-feira com muito trabalho por fazer onde tudo volta ao normal, às mais tradicionais e previsíveis rotinas, ansiosas pelo próximo domingo temeroso, onde tudo se acaba para recomeçar.

Um comentário:

  1. Domingo é dia do cão. Por isso, meu filho, é dia de ir à igreja e comer pipoca doce crocante :D. Quanto ao ócio, tem que aprumar pra ser criativo, assim como defende um de nossos gurus.

    besos.

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